Crônica Humorística - Denotação -Conotação - 9.º Ano - Aula 22 - Dia 21/05/21

Crônica Humorística; Denotação e Conotação

Escola Municipal de Ensino Fundamental e Médio Luiz Joaquim dos Santos
Professora: Luciene Castor Dantas Quintão
Componente Curricular: Língua Portuguesa
Série: 9.º Ano        Turma: 
A         Turno: Manhã
Semana 11 – Aula 22 – DIA: 21 / 05 / 2021
Conteúdo: Crônica Humorística; Denotação e Conotação

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM
Entregar até 13/05/21

Prazeres da “Melhor Idade”

        A voz em Congonhas anunciou: "Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão tal terão preferência etc.". Num rápido exercício intelectual, concluí que, não tendo necessidades especiais, nem sendo criança de colo, gestante ou portador do dito cartão, só me restava a "melhor idade" - algo entre os 60 anos e a morte.
        Para os que ainda não chegaram a ela, "melhor idade" é quando você pensa duas vezes antes de se abaixar para pegar o lápis que deixou cair e, se ninguém estiver olhando, chuta-o para debaixo da mesa. Ou, tendo atravessado a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho porque o sinal abriu e agora terá de correr para salvar a vida. Ou quando o singelo ato de dar o laço no pé esquerdo do sapato equivale, segundo o João Ubaldo Ribeiro, a uma modalidade olímpica.
        Privilégios da "melhor idade" são o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais. Ou seja, nós, da "melhor idade", estamos com tudo, e os demais podem ir lamber sabão.
        Outra característica da "melhor idade" é a disponibilidade de seus membros para tomar as montanhas de Rivotril, Lexotan e Frontal que seus médicos lhes receitam e depois não conseguem retirar.
        Outro dia, bem cedo, um jovem casal cruzou comigo no Leblon. Talvez vendo em mim um pterodáctilo da clássica boemia carioca, o rapaz perguntou: "Voltando da farra, Ruy?". Respondi, eufórico: "Que nada! Estou voltando da farmácia!". E esta, de fato, é uma grande vantagem da "melhor idade": você extrai prazer de qualquer lugar a que ainda consiga ir.

CASTRO, Ruy. Morrer de prazer – crônicas da vida por um fio. Rio de Janeiro: Foz, 2013..

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM

01. O cronista vale-se da linguagem conotativa, isto é, explora tudo aquilo que as palavras podem sugerir, além de seu significado propriamente dito. O trecho “um pterodáctilo da clássica boemia carioca” sugere que o autor:
A) ( ) constitui-se como um escritor ultrapassado.
B) ( ) exemplifica a autenticidade de um boêmio.
C) ( ) identifica-se com um carioca da gema.
D) ( X ) representa uma categoria já extinta.

02. Com relação aos substantivos próprios usados na crônica, assinale a correspondência feita de forma INCORRETA, conforme o sentido do texto.
A) ( ) Congonhas: alusão à cidade em que há os profetas de Aleijadinho.
B) ( ) João Ubaldo Ribeiro: escritor baiano, citado por sua ironia.
C) ( ) Leblon: toponímia de conhecido bairro do Rio de Janeiro.
D) ( ) Rivotril, Lexotan e Frontal: medicamentos ansiolíticos.

03. Assinale a alternativa cujo pronome destacado foi interpretado CORRETAMENTE.
A) ( ) Clientes com necessidades especiais, crianças de colo, melhor idade, gestantes e portadores do cartão TAL terão preferência etc. (de cliente especial).
B) ( ) Ou seja, nós, da “melhor idade”, estamos com TUDO, e os demais podem ir lamber sabão. (todas as vantagens da idade).
C) ( ) Para OS que ainda não chegaram a ela, “melhor idade” é quando você pensa duas vezes... (aqueles abaixo de 60 anos).
D) ( ) E ESTA, de fato, é uma grande vantagem da “melhor idade”... (a farmácia).

04. De acordo com o texto, na “melhor idade” há
A) ( ) Vantagens em viagens aéreas, uma vez que nessa fase os aposentados não necessitam pagar as passagens nesse meio de transporte.
B) ( ) O aumento no consumo de medicamentos, já que esses são receitados pelos médicos para melhorar a qualidade de vida.
C) ( ) Privilégios, como o de viajar sozinho e não precisar enfrentar filas, como, por exemplo, em aeroportos.
D) ( ) Privilégios, como o ressecamento da pele, a osteoporose, as placas de gordura no coração, a pressão lembrando placar de basquete americano, a falência dos neurônios, as baixas de visão e audição, a falta de ar, a queda de cabelo, a tendência à obesidade e as disfunções sexuais.
E) ( ) O aumento do consumo de antidepressivos, já que nessa fase da vida os quadros depressivos tendem a aumentar.

05. Considerando a definição, assinale a alternativa em que a expressão destacada foi empregada em sentido irônico pelo autor.
A) ( ) A VOZ no aeroporto de Congonhas anunciou: “Clientes com necessidades especiais…”
B) ( ) Para os que ainda não CHEGARAM a ela, “melhor idade” é quando você…
C) ( ) Ou, tendo ATRAVESSADO a rua fora da faixa, arrepende-se no meio do caminho…
D) ( ) PRIVILÉGIOS da “melhor idade” são o ressecamento da pele, a osteoporose…
E) ( ) Outro dia, bem cedo, um JOVEM casal cruzou comigo no Leblon.

Fúria no trânsito

        Existe uma forma simples de avaliar o grau de evolução do ser humano. Basta observar dois sujeitos após uma batida. Saem dos veículos arrebentando as portas. Olhares ferozes. Torsos inclinados para a frente. Mãos crispadas. Batem boca. Bastaria mudar o cenário, trocar os ternos por peles e entregar um porrete para cada um. Estaríamos de volta à pré-história, Poucas atividades humanas despertam tanto o espírito selvagem como a guerra no trânsito.
        Tenho um amigo de fala mansa, calmo e sensato. Outro dia estávamos no carro. Chuviscava. O suficiente para que os carros entrassem numa luta desenfreada no asfalto. Cortadas súbitas. Buzinas. Ele passou a costurar por todos os lados. Fomos ao Morumbi Shopping. Havia uma fila para o estacionamento vip (quem almoça em alguns restaurantes de lá tem direito a manobrista gratuito).
        - Um idiota está parado lá na frente - ele anunciou.
        - Por que idiota? Você não sabe o motivo ... - comecei a dizer.
        Não pude terminar a frase. Agarrei-me ao banco. Ele atirou o carro para a direita. O da frente fez o mesmo. Para não bater, meu amigo jogou o seu sobre o canteiro. Veio a pancada. O pneu arrebentou. O veículo parado mexeu-se, vagarosamente, e partiu. Meu amigo esbravejou. Trocou o pneu. Depois foi a uma borracharia, onde acabou brigando também. Passou o resto do dia num humor de cão. Telefonou:
        - Tudo por culpa daquele imbecil!
        Argumentei:
        - Você não sabia o motivo de o carro estar parado. A pessoa podia estar se sentindo mal. Pense. Por causa de alguém que não conhece, você quase amassou o carro, arrebentou seu pneu e está furioso. Como permite que um desconhecido faça tudo isso com você?
        Silêncio sepulcral. Depois, ouvi um clique do telefone sendo desligado.
        Costumo dirigir devagar. Quando vou para o Litoral Norte é uma tortura. A estrada só tem uma pista, com muitos locais de ultrapassagem proibida. Tento me manter na velocidade exigida pelas placas. Adianta? Alguém sempre gruda em mim. Volta e meia, quando ultrapassam, ouço me xingarem.
        Nestes tempos politicamente corretos, já não se ouvem tantos gritos do tipo:
        - Ô dona Maria, vá pilotar fogão!
        Entretanto, existe, sim, um preconceito contra mulher ao volante. Confesso que também já tive. Hoje, às vezes passo por uma senhora dirigindo em paz. Alguém do meu lado reclama:
        - Olha lá, empatando o trânsito. Só podia ser mulher.
        Lembro que as seguradoras costumam cobrar menos de motoristas do sexo feminino. Causam menos acidentes. Há algum tempo uma amiga bateu em uma moto. Teve de se trancar no carro enquanto um bando de motoqueiros solidários com o acidentado chutava seu carro. Foi resgatada pelo socorro. Detalhe: o culpado era o motoqueiro. Ninguém se machucou. Ela voltou para casa apavorada.
        Soube de um rapaz que certa vez foi fechado numa grande avenida. Gritou:
       - Safado, você vai ver!
        Seguiu atrás, buzinando. O outro tentava fugir, ele perseguia. Deu uma superfechada, obrigando o carro a parar. Saiu furioso, pronto para a briga. Aproximou-se.
        No banco do motorista estava uma senhora idosa, tremendo de medo. Ele caiu em si.
        - Parecia que eu estava em um filme, me assistindo.
        Gaguejou. Pediu desculpa. Partiu.
        No dia seguinte, vendeu o carro.
        - Não confio em mim mesmo ao volante. Eu me torno outra pessoa. Prefiro não dirigir.
        Claro que não é uma receita para todo mundo. Para ele, funcionou. Anda de ônibus, táxi ou metrô. Sente-se feliz. Como se tivesse abandonado a pré-história e, finalmente, ingressado na civilização.

CARRASCO, Walcyr. Histórias para a sala de aula: crônicas do cotidiano. São Paulo: Moderna, 2010.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO DA APRENDIZAGEM

06. O texto Fúria no Trânsito é
A) ( ) um conto sobre desastres de trânsito.
B) ( ) uma crônica sobre a guerra no trânsito.
C) ( ) o panfleto de uma campanha em favor da educação no trânsito.
D) ( ) o editorial de uma revista da grande imprensa sobre o espírito selvagem do ser humano das grandes cidades.

07. O autor do texto, Walcyr Carrasco,
A) ( ) descreve o trânsito das grandes cidades.
B) ( ) critica o comportamento das pessoas no trânsito.
C) ( ) avalia os diferentes graus de evolução do ser humano.
D) ( ) argumenta em favor da realização de uma campanha de trânsito.

08. O fragmento de texto em que NÃO há referência ao comportamento das pessoas no trânsito é
A) ( ) Saem dos veículos arrebentando as portas.
B) ( ) Tenho um amigo de fala mansa, calmo e sensato.
C) ( ) Deu uma superfechada, obrigando o carro a parar.
D) ( ) ... os carros entrassem numa luta desenfreada no asfalto.

09. Há um fragmento de texto descritivo em
A) ( ) Gaguejou. Pediu desculpa. Partiu.
B) ( ) Para ele, funcionou. Anda de ônibus, táxi ou metrô.
C) ( ) Olhares ferozes. Torsos inclinados para a frente. Mãos crispadas.
D) ( ) Veio a pancada. O pneu arrebentou. O veículo parado mexeu-se, vagarosamente, e partiu.

10. Há linguagem conotativa em:
A) ( ) Trocou o pneu.
B) ( ) Não pude terminar a frase.
C) ( ) O outro tentava fugir, ele perseguia.
D) ( ) Ele passou a costurar por todos os lados.

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